🍻 Álcool e impotência (não aquela) / #02
A primeira edição desse ano não é uma propaganda do Boston Medical Group (mas as próximas podem ser se eles quiserem me pagar).
Estou escrevendo isso no domingo, dia 14/01, e nesse momento eu estou bebendo uma Budweiser Zero. É razoável, até, é um refrizinho de cevada, ou uma kombucha ainda mais socialmente estigmatizada. A Budweiser é a Zero e não uma cerveja comum porque estou fazendo o tal do Dry January: decidi fazer isso de última hora, logo no dia 30 ou 31 de dezembro, quando o
comentou que normalmente fazia o tal do desafio e proselitisou um pouco seus benefícios. Eu já estava com a questão do álcool na cabeça, já tinha até levado para a terapia, o porque disso eu detalho mais para frente, tenha paciência. Começo de ano de ano é sempre esse momento da religiosidade agnóstica, que fazemos promessas, juramos que vamos mudar completamente, etc. E daí normalmente não mudamos tanto quanto prometemos… mas acho que tudo bem também. Acho que o importante é tentar.Daí o dia 31 virou 1º de janeiro, feliz ano novo para todo mundo!, e estouraram alguns fogos de artifício onde eu estava, e eu fui tropegando dormir, e, desde então, não bebi mais nada. E além de explorar meus pensamentos sobre beber, tô tentando também explorar meus pensamentos sobre não beber. Eu já estava planejando escrever sobre esse assunto, e não queria exatamente transformar esse texto numa resposta, mas a
acabou publicando sobre esse exato tema antes de mim, no dia 10, e eu acho que ela traz alguns pontos interessantes no texto dela que eu acho muito pertinentes. Então, sei lá, vai ler o texto da Marie antes de continuar o meu. Mas volta, por favor.Voltou? Bom.
Acho que pensar a relação com o álcool sempre bate no primeiro numa resistência que a Marie colocou muito bem, parafraseando, como ninguém quer ser lembrado de que é um alcoólatra em potencial. Todo mundo sabe que alcoolismo é difícil e um problema genuíno, mas alcoolismo é sempre o outro, é muito conveniente para a manutenção da autoimagem que o alcoólatra nunca chegue tão perto do Eu. Além de que, vamos ser sincero, moderação tem um certo problema de imagem. É a fala em 1.5x no final do comercial de cerveja, é o pastor exorcizando o demônio do corpo do bebum, a Monja Coin fazendo publipost e o mala natureba que entra em viagem natural meditando enquanto toma sol no períneo. Fico pensando o quanto que essa cafonice não é também uma barreira.
O que nenhum desses discursos lida muito bem é que na verdade beber é uma delícia. Quando eu comecei ao beber, nas festas meio insalubres mas toleradas (sei lá porque) organizadas pela minha turma de Ensino Médio, acho que era mais um instrumento de autoafirmação do que inclusive de ficar bêbado. A gente estava fazendo a pose de Muito Adulto tentando um fake it ‘till you make it. Eu odiava o sabor de cerveja, inclusive, bebia muito era Big Apple com guaraná, quem lembra? A bebida entrou justamente naquela fase da adolescência que você quer se provar adulto, mas óbvio que toda tentativa de se provar adulto só comprova o oposto. Lembro de estar numa dessas festas, quando um outro garoto que alguns anos antes tinha sido um bully, me viu com um copo na mão e exclamou meio espantado: o Fedato bebe? E eu respondi: 𝖈𝖑𝖆𝖗𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖊𝖚 𝖇𝖊𝖇𝖔. 𝖁𝖔𝖈𝖊 𝖓𝖆𝖔 𝖛𝖊 𝖈𝖔𝖒𝖔 𝖘𝖔𝖚 𝖆𝖉𝖚𝖑𝖙𝖔 𝖊 𝖉𝖊𝖘𝖈𝖔𝖑𝖆𝖉𝖔.
Não vou entrar em toda a questão de cultura jovem e álcool porque acho que a Marie também fala muito bem sobre isso, se não para dizer que na verdade eu sempre achei que sou uma pessoa relativamente comedida, meio que porque simplesmente acho que muitos dos rolês meus não tinham a mesma cultura de beber para caralho. Em parte porque sempre fui um nerdola maldito, vou em poucas festas da faculdade, mas assim, na Zig ninguém se importa se você está bebendo muito porque boa parte da população local está em outras substâncias. E tudo bem. Então, só bebendo, sempre me vi até como até careta. No fim, o que me assustou, em algum nível, foi que eu iniciei janeiro achando que ia arrasar, mas depois de algum tempo eu realmente senti falta, e é virou costume. Eu posso parar quando eu quiser (mas não precisa de algum autocontrole.)
Acho que sou bem a pessoa que usa álcool como muleta social, no fim das contas. Não bebo de semana, etc. O meu sinal de alerta acendeu quando eu percebi que não conseguia sair sem antes beber. Fui ver uma peça de teatro e precisei beber em casa antes de sair de casa para poder ver a peça. Fui na festa de aniversário de um amigo meu, e já enchi a cara em casa, cheguei já completamente bebaço, e muito mais bêbado que todo mundo estava. Sentia implicitamente uma necessidade não apenas uma necessidade de beber para me divertir, mas para ser uma pessoa divertida. No fundo, crendo que precisava passar vexame e falar demais para ser a pessoa com a qual meus amigos se divertem. No dia 31, vestido de branco para a virada, estava conversando com uma (amiga dos meus pais e meus tios que por conveniência e consideração chamo de) tia, também completamente bêbada, que me contava diversas fofocas de sua família, desabafava, e eu desabafei também. E eu disse falei sobre toda essa relação com a bebida. Ela aconselhou: nunca beba por causa de ninguém, cara!!!!! Você sabe que eu te amo!!!!!!!!!! E eu no fim acabei saindo sem querer do armário para ela. Mas tudo bem, ano novo é sobre isso.
Com o que saí da terapia, também, se liga com o algo que eu já tinha pensado antes. Acho que no fundo sou uma pessoa muito passiva, com tendência a ficar esperando a graça divina. O que tem de mais passivo e consumista que consumir um produto esperando que ele te dê as características que você desejaria ter? Estou é abdicando de partes minhas e as atribuindo à bebida.
No fim, não estou fazendo essa pausa porque acho o sacrifício da carne algo virtuoso, apesar de ter, até agora, requerido autorregulação. Tô tentando, na verdade, provar para mim mesmo que não preciso acordar com ressaca no dia seguinte para me divertir ou ser divertido, para maximizar o meu prazer. Acho que chegou um ponto em que encher a cara, naqueles moldes, não estava mais sendo prazeroso. A ressaca moral não estava valendo a pena. Quero saber que não preciso, mas faço porque quero e me dá prazer. Quando eu voltar a beber no carnaval, quero encher a cara apenas por prazer.
E os benefícios para a saúde e meu corpo capenga são um bom bônus.
Pensamentos aleatórios
Boninho está tentando desvalorizar o ex-BBB
Com 26 participantes no início do BBB 24, Boninho está claramente aumentando a oferta de ex-BBB para desvalorizar a força desse atributo numa bio de Instagram quando esse futuro ex-sub tentar vender publi pro jogo do tigrinho.
Orgulho nacional
Patrícia Lelis, mãe de bebê NFT e orgulho da esquerda de velho, é atualmente procurada pelo FBI. E se defendeu com um tweet que começa assim:
Entre ela e o George Santos, é o Brasil mostrando o que é trambique para os EUA.
Instagram não é mais rede social
É só esquema de pirâmide, bets e vídeo de cachorro. Eventos enormes acontecem na vida dos meus amigos, eles postam sobre isso, e eu não fico sabendo.
Vida analógica
Outra meta para 2024 é ser uma pessoa menos online. Comprei um caderninho Schizzibooks capa mole e uma caneta de tinta gel Energel e tô é muito feliz na vida analógica (por enquanto). Comprei até a agenda da Todavia. Acho que não tenho agenda de papel desde o ensino fundamental, quando a professora mandava mensagenzinhas para meus pais com ela. A meta é escrever meu próximo romance inteiro a caneta primeiro. Vamos ver. Já comecei.
Recomendações
Bill Evans — You Must Believe in Spring
Admito, eu temo o jazz, with its lack of boundaries. Tenho tentado ouvir jazz porque sinto que eu deveria experimentar de tudo, e se eu realmente não gostar, é porque eu dei uma chance e cheguei a uma opinião própria. O meu problema com o gênero é que eu não sei nada sobre teoria musical, então as explicações do porque Kind of Blue é genial são incompreensíveis para mim, apesar de não duvidar que sejam verdadeiras. Porém, na minha pequena incursão ao gênero, eu botei esse álbum para tocar numa tarde que eu estava reflexivo e levemente deprê e ele me tocou muito, é lindíssimo. Recomendo.
Garth Greenwell — O que te pertence
Depois de ler a newsletter que Garth Greenwell escreveu sobre a tradução em inglês de “O amor dos homens avulsos” do Victor Heringer, um dos meus romances favoritos, eu decidi fazer o que deveria ter feito a muito tempo, e fui ler o romance dele, que eu já tinha comprado no Kindle no fazia bastante tempo mas ainda não tinha lido. Recomendo muito. Estou no finalzinho.
Aqui foi publicado pela Todavia com tradução de José Geraldo Couto. É sobre um professor que leciona no American College na Bulgária, e seu caso com um garoto de programa. É sobre repressão, liberdade e desejo, e a mediação entre esses fatores. Talvez eu me aprofunde nesse livro na próxima edição. Não sei. Talvez.
A doença era a única história que se contava sobre homens como eu no lugar de onde eu vim, e ela reduzia minha vida a um conto moral, no qual eu podia das duas, uma: ser casto ou condenado. Talvez seja por isso que, quando afinal fiz sexo de verdade, não era tanto o prazer que eu procurava e sim o júbilo de pôr os freios de lado, de fazer de conta que não sentia medo, um frisson de liberdade tão intenso que era quase suicida.
Vosso oráculo se revela
Caso alguém tenha perguntas, me mande pelo meu CuriousCat. Se for algo que requer uma resposta de mais fôlego, eu responderei na próxima edição da newsletter, se não respondo por lá mesmo. Podem mandar também receitas, recomendações para a playlist de eletrohits que estou montando, o que vossos corações desejarem.
perdi tudo em “in more ways than one”